“Era muito bom quando trem passava na cidade. Ouvíamos
as pessoas gritarem: olha o trem... Olha o trem... Está chegando... Corríamos
para vê-lo passar...”
Elida Belo da Silva, conhecida como D. Leda, nasceu no dia
04 de outubro de 1923, em São Luís do Quitunde, precisamente na Rua Dr. Júlio
de Mendonça. É filha de Joaquim Belo da Silva e Corália Belo da Silva. Nasceu
em casa, como a maioria das pessoas naquela época, sua própria mãe era
parteira. Mudando-se depois, com a família, para outra casa na mesma rua, em
frente à praça do Pe. Cícero, onde reside até hoje.
Conversei com ela algumas vezes. Sempre bem humorada e
prestativa. Mulher simples, mas com uma sabedoria invejável. Beirando os 90
anos, ela me falou com clareza, em um final de tarde em sua casa, quando fui visita-la.
Aqui, registo um pouco da nossa conversa.
Anobelino: Estou curioso em saber como foi a sua infância.
Dn. Leda: Era um tempo muito bom, minha infância sem
dúvida foi ótima. Fui catequista da Igreja, na época do Pe. Durval e cantava no
Coral Sagrado Coração de Jesus. Lembro-me também que naquela época existia o “Clube
das Mães”, que funcionava do lado da Igreja.
Anobelino: Onde hoje é a Secretaria de Saúde?
Dn. Leda: Sim, sim... Lá as mães mais experientes
ensinavam as mães mais novas a costurar, a fazer crochê e a bordar. Durante
muito tempo participei desse grupo, sem dúvida esse foi um tempo sem igual.
Hoje são poucas as mães que se dedicam a fazer todo o enxoval do seu filho com
as próprias mãos, naquela época não, todas as mães faziam juntas e depois iam
para a Igreja rezar e agradecer a Deus.
Ouvindo Dn. Leda falar, fiquei imaginando as mulheres indo
todas as tardes para o “Clube das Mães”, onde poderiam aprender um pouco sobre
costura. De fato, hoje em dia são poucas as mulheres que se interessam por
isso, a grande maioria prefere comprar as roupas das crianças já prontas. Creio
que existe um significado profundo em fazer, com as próprias mãos, as roupas dos
filhos.
Dn. Leda continuou contando sobre sua vida:
Dn. Leda: Lembro-me que quando tinha por volta de 11,
12 anos de idade fui dormir ansiosa para ir para a caminhada Mariana da Festa da
Padroeira, Nossa Senhora da Conceição, que iria começar às cinco horas da
manhã. Acordei desesperada achando que já eram cinco horas e que a caminhada já
havia saído. Saí de casa às pressas e quando fui chegando à ponte do rio do
Padre (Ponte concreto que fica próximo da Praça do Pe. Cícero), que na época,
ainda era de madeira, vi um senhor que disse: -Ei menina, você não é a filha da
Dona Corália? Aonde você vai uma hora dessas? Então eu falei: -Vou para a
caminhada da Igreja, não são cinco horas? Rindo, o homem me disse: -Menina
ainda são três horas da manhã! Nesse dia fiquei em frente à igreja esperando
chegar às cinco horas, quando o sacristão abriria a Igreja.
Contou-me essa história com ar de riso. Lembrando com
nostalgia do momento. Aproveitei para perguntar sobre um antigo trem da Usina
Santo Antônio.
Anobelino: Fiquei sabendo que em frente à Igreja,
passavam um trem que servia para carregar cana-de-açúcar até o Porto da
Barcaça. A senhora lembra?
Dn. Leda: Sim, claro que me lembro do pequeno trem! Às vezes eu subia em cima dele para andar, já que na época não tinha qualquer transporte motorizado na cidade. Conseguir subir em cima do pequeno trem era uma grande conquista nos meus tempos de criança. Era muito bom quando trem passava na cidade. Ouvíamos as pessoas gritarem: olha o trem... Olha o trem... Está chegando... Corríamos para vê-lo passar...”
Enquanto contava essas histórias, minha mente viajava no
passado, numa época em que nunca vivi, como um filme antigo que traz as imagens
de décadas passadas. Assim, minha mente viajou e trouxe-me uma imagem do
passado, junto com uma afirmação: nossa cidade tem uma bela história que
precisa ser contada.
Aproveitando a história do trem perguntei se ela tinha
recordação do primeiro carro que circulou pelas ruas de barro de São Luís do
Quitunde.
Empolgada ela respondeu:
Dn. Leda: Sim, claro que lembro! Quando o carro
chegava na cidade era a maior festa para as crianças. Saíamos correndo pela “Rua
do Bode” para ver o automóvel que vinha da Castanha Grande. E sabe quem dirigiu
o primeiro carro aqui em São Luís do Quitunde? O meu irmão, Humberto Belo da
Silva. Ele foi, durante muitos anos, motorista do Padre Lourival, vinha
dirigindo e quando via aquele imenso número de crianças e jovens que se
encantavam com o veículo, buzinava, e todos corriam com medo... Era engraçado.
Para finalizar a conversa, pedi que a simpática senhora
desse um recado para os quitundenses.
Dn. Leda: Sejam fieis a Deus, amém a Igreja de vocês
assim como eu amo a minha. Sejam fieis a Deus e vocês serão
felizes!”
Sem dúvidas, Elida Belo, a Dona Leda, é uma grande mulher!
Anobelino Martins
Poeta e escritor
Poeta e escritor
parabéns, tia leda é uma pessoa maravilhosa e é nossa joia. marcinho.
ResponderExcluirLinda a hirtoria realmente dar pra fazer uma viagem legal na imaginação!
ResponderExcluirDona Leda Pessoal Especial ,,,,,,,,,,,,,,,
ResponderExcluirSou da capital de SP, estarei em AL dia 16/07/12, vou aproveitar a oportunidade e passar em São Luiz do Quitunde para conhecer a cidade onde meu pai nasceu. Não tenho nenhuma informação se alguém da família mora por aí, será que Dona Leda saberia dizer sobre a família de do meu avô sr. Amaro Navaro Lins, esposo de dona Celina Maria da Conceição?
ResponderExcluirGrande abraço.
Valdirene